terça-feira, 17 de maio de 2011

Onde Moras? [Entrando na intimidade com Cristo]



[Jo 1:29-42]


     João, o Batista, vê Jesus e começa a dar testemunho dEle dizendo:
     __ Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
     No entanto, nada especial parece acontecer.
     No dia seguinte, João vê outra vez a Jesus, e volta a dizer:
     __ Eis o Cordeiro de Deus.
     Desta vez, porém, dois de seus discípulos o ouvem e seguem a Jesus.
     Por certo João fica olhando para eles, sem nada dizer ou fazer para detê-los. João sabe que tem que perder para que Jesus ganhe. Ou, como diz o evangelho, tem que diminuir para que cristo cresça (Jo 3:30). Sua missão como precursor é pregar o Cristo, fazer com que todos O vejam e O sigam.
     Entretanto, Jesus se dá conta de que os dois estão seguindo-O. Então se volta para eles e lhes pergunta:
     __ Que buscais?
     É uma pergunta muito interessante. E direta. Sim, porque o seguiam?

QUE BUSCAIS?

     Pelo menos mais duas ocasiões, Jesus Confrontou às pessoas com as verdadeiras motivações que tinham ao seguir-lhe. Em ambas as ocasiões Ele foi direto e severo. Como se não lhe interessasse que o seguissem.
     Na primeira o Senhor explana sobre as altas demandas, ou o alto preço, do discipulado:
     __ Se alguém vem a mim e não aborrece seu pai e mãe e mulher e filhos e irmãos e irmãs e até mesmo sua própria vida, não pode ser meu discípulo... Qualquer de vocês que não renuncia a tudo o que possui, não pode ser meu discípulo. (Lc 14:25,26)
     Isto significa, nada menos, que aborrecer a todos e renunciar a tudo. Esta palavra não era muito popular, nem pretendia agradar as pessoas.
     Na segunda ocasião, o Senhor mostra o quão mesquinho era o coração dos que o seguiam. Logo depois de multiplicar os pães e os peixes, o povo pretendia coroá-lo rei; mas como o importunassem, o buscassem e seguissem, inclusive até além do mar. Ao encontrar-lhe, lhe perguntam:
     __ Rabí. Quando chegaste aqui?
     O Senhor, que conhecia perfeitamente os que o buscava, lhes diz:
     __ Com certeza sei que não me buscam porque viram os sinais (de que Ele era o Messias), mas porque comestes dos pães e encontraram algo com que saciar. (Jo 6:25,26)
     Estas motivações, assim como as perguntas das pessoas e as respostas do Senhor, são muito recorrentes e continuam acontecendo até o dia de hoje.
     Muitos se aproximam do Senhor somente para ser saciados, ou curados, ou protegidos (como se Ele fosse um talismã). Somente para Isso. Mas o Senhor, que não pode ser enganado e que, como diz em João 2:25, conhece tudo o que há no homem, nos confronta com esse assunto diretamente.

ONDE MORAS?

     Os discípulos de João tiveram, porém, uma motivação bem distinta.
     __ Mestre, Onde moras? - perguntaram.
     __ Venham e verão - respondeu-lhes o Senhor.
     O Senhor não repele aqueles "intrusos" (porque realmente era uma pergunta bem indiscreta), mas os convida para a casa onde morava. Ele não os havia chamado, mas tampouco os rejeita. Em João 6.37 Ele diz: "O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora."
     No entanto, em um de seus discursos, o Senhor também lhes diria:
     __ Não fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi a vos. (Jo 15:16)
     Como se cumpriu isso na vida dos discípulos? Ele os escolheu ou foram eles que se ofereceram?
     Não foram eles que se ofereceram. O Senhor chamou-os, o que acontece é que o Senhor os chamou de uma maneira diferente. O Senhor lhes inquietou o coração e os atraiu até a Sí, de modo que O seguiram. Quem poderia segui-Lo se Ele não chamar?
     Eles foram, viram onde Ele morava e ficaram com Ele aquele dia. No ato de segui-lo eles mostraram interesse por Sua pessoa, diferente das multidões, eles não queriam obter algo de Jesus, antes queriam conhecê-lO. o que lhes interessavam e atraíam era o próprio Jesus.
     O que viram esses nEle? Seguramente em Sua casa não havia nada que pudesse chamar especialmente a atenção. Pelo menos nada que aos homens chame a atenção, entretanto eles devem ter visto algo EM Jesus, porque na manhã seguinte um deles, André, encontrou-se com Simão, seu irmão, e lhe disse:
     __ Encontramos o Messias.
     Pedro deve ter ficado muitíssimo surpreendido com essa declaração. Porque dizer isso a um judeu, por mais ignorante que fosse, era dar-lhe a notícia mais espetacular que ele poderia ouvir em toda sua vida. Ficando o ouvinte extremamente feliz ou escandalizado, a notícia era espetacular. Afinal o povo judeu esperou (e alguns esperam ainda) por dezenas de séculos pela chegada do Messias.
     Imaginem o entusiasmo de André. O que teria visto ele naquela noite? Que coisas ouviu dos lábios de Jesus? Que estranho fulgor viu em seu olhar? O que sentiu ele no tom de Suas palavras? O que queimou no profundo de sua alma? Que coisas tão grandes ele viu e ouviu - podemos imaginar - para que saísse falando daquela maneira?
     André nem esperou que seu irmão se refizesse do espanto por tão grave declaração, mas o levou imediatamente até Jesus.
     Com certeza Pedro olhou Jesus "de alto a baixo", ouviu suas palavras atentamente, guardando cada uma delas, com a atitude receosa de muitos do povo, desconfiando de tudo e de todos.
     Mas Pedro também ficou com Ele. Para sempre.

É UMA HONRA SER CONVIDADO

     O Senhor Jesus veio para salvar todos os homens, mas também veio para fazer discípulos. Ele não tem tanto prazer naqueles que o buscam para serem curados (embora igualmente os atenda, porque é misericordioso e compassivo), mas tem maior prazer nos que vêm perguntando-lhe onde mora.
     Era isso que Ele desejava naquele tempo e deseja a mesma coisa ainda hoje. Ele deseja que procuremos onde Ele mora e que fiquemos com Ele para sempre. Portanto, o desejo Senhor é que, quando nós fizermos discípulos, o confrontemos com a mesma pergunta que ele fez àqueles discípulos de João: "O que buscais?".
     As multidões ainda seguem a Jesus, nos dias de hoje, pelos mesmos motivos de antigamente. Talvez tenham mudado as nuances e a roupagem das reais motivações, mas no fundo ainda são as mesmas. E ainda hoje os verdadeiros discípulos de Jesus continuam com a mesma motivação daqueles dois discípulos, à margem das multidões. Esse grupo de discípulos constitui-se de um círculo íntimo que se interessa em conhecer, contemplar e seguir a Jesus de perto.
     Não podemos nos contentar meramente em fazer parte da "cristandade", muitos que se dizem cristãos têm sido tão interesseiros e vaidosos (quantas vezes não fomos nós mesmos esses, ou ainda somos?). Essa "cristandade" professa o Nome de Jesus porque faz parte de um status social, porque ele funciona como um ente aglutinador e como mero sustentáculo de suas tradições. Ela o celebra, está certo, mas celebraria à qualquer outro (nome) que lhe servisse (desse o status, reunisse 'fiéis', sustentasse suas tradições), assim como os hindus celebram o Buda e os mulçumanos a Maomé.
     Por isso precisamos nos apartar dessa maré, para ver onde Ele mora, e ficarmos com Ele.
     Alguns de nós nos achegamos à Ele como estes dois discípulos, ainda que não soubéssemos na verdade quem Ele era; falamos a Ele (às vezes com petulância, outras com temor, mas com sinceridade): Onde você mora? e Ele não nos desprezou. Pelo contrário, nos atraiu, revelando-nos o Seu coração, de modo que foi impossível não amá-lo.
     Talvez Ele te conceda também o privilégio de seguir-lhe. É possível que ele esteja fazendo-se ouvir por você. Se é assim, considere-se um bem-aventurado, e siga-O imediatamente, não pense duas vezes. Que não aconteça que a voz dEle passe de ti e deixes de ouvi-la.
     Seguir a Jesus não depende de que alguém se ofereça, mas que Ele chame. [Jo 15:16] Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda. E seu chamado é inconfundível. Pode ser uma voz quase audível ou pode ser uma voz sem palavras, uma inquietação, um desejo. Seja como for, se você tem sentido essa voz, saberás que é Ele. Então tem que segui-lo até a casa onde ele mora, porque é uma honra que Ele te concede.
     Jesus é o Senhor e nós não escolhemos a Ele, mas Ele é quem escolhe a quem vem à sua casa.

DISCÍPULOS, NÃO MEROS SEGUIDORES

     Ser "discípulos" é mais do que "alguém que o segue".
     Em certa ocasião, Pedro disse ao Senhor.
     __ Nós deixamos tudo e O seguimos.
     O Senhor lhe respondeu:
     __ Na verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou pais, ou irmãos, ou mulher, ou filhos, pelo reino de Deus que não haja de receber muito mais neste mundo, e na idade vindoura a vida eterna (Lucas 18:29-30)
     Pedro era inconstante, arrogante e ambicioso (afinal, negou ao Senhor), mas ele deixou tudo por Jesus. Sim, foi isso que ele fez. Sendo assim, antes de o julgarmos pelas coisas reprováveis que fez, perguntemos-nos o quanto nós temos deixado pelo Senhor.
     Em um dado momento, em que todos voltavam atrás, o Senhor disse aos seus íntimos:
     __ Vocês também não querem ir?
     __ Senhor, para onde iremos da Tua presença? A quem nós iremos? Só Tu tens palavras de vida eterna. E nós cremos e reconhecemos que Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivente - lhe respondeu então Pedro (Jo 6.68-69).

PÕE TEU NOME

     Dos dois discípulos de João que, naquele dia, seguiram a Jesus, conhecemos apenas o nome de um deles: André. Quem era o outro? Não o sabemos.
     Há ali um discípulo anônimo; há ali uma lacuna que talvez esteja esperando por você. Talvez o texto tenha ficado assim para que coloque ali o TEU nome.



[1º Capítulo do livro "No Solo Cristo Murió: Los Amigos También Tienem que Morir" tradução de Daniel Freire]

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