terça-feira, 31 de maio de 2011

Negligenciar o Espírito Santo - A. W. Tozer (Parte 1)


Ao negligenciar ou negar a divindade de Cristo os modernistas cometeram um trágico desatino, pois nada lhes fica senão um Cristo imperfeito, cuja morte foi mero martírio e cuja ressurreição é um mito. A atitude do modernista ao negar a divindade de Cristo é culposa, mas nós que nos orgulhamos de nossa ortodoxia, não devemos permitir que a nossa indignação nos cegue para os nossos próprios defeitos, pois nós também temos cometido nos últimos anos um erro crasso na religião, um erro estreitamente paralelo ao dos modernistas. O nosso erro (ou não deveremos dizer francamente, o nosso pecado?) tem sido o de negligenciar a doutrina do Espírito, a ponto de virtualmente negar Seu lugar na Divindade? O nosso credo formal é correto; o rompimento está em naquilo que cremos na forma prática.


Uma doutrina só tem valor prático na medida em que ela é proeminente em nossos pensamentos e faz diferença em nossas vidas. Com esse teste, a doutrina do Espírito Santo, conforme é sustentada pelos cristãos conservadores hoje em dia, não tem quase nenhum valor prático. Na maioria das igrejas cristãs o Espírito é inteiramente deixado de lado. Se Ele está presente ou ausente, não faz real diferença para ninguém. Breve referência é feita a Ele nos cânticos e na bênção apostólica. Fora disso Ele bem pode deixar de existir. Nós O ignoramos tanto que é só por cortesia que podemos ser denominados de “Trinitarianos” (os que crêem na Trindade).


A doutrina do Espírito Santo é dinamite enterrada. Seu poder aguarda descobrimento e uso pela igreja. O poder do Espírito não será dado a ninguém que dê fraco assentimento à verdade do Espírito. Ele espera por nossa ênfase. Quando o Espírito Santo deixar de ser incidental e voltar a tornar-Se fundamental, o Seu poder se firmará uma vez mais entre as pessoas chamadas cristãs. A idéia do Espírito sustentada pelo membro de igreja comum é tão vaga que quase chega a ser inexistente. 



Devemos sempre fazer distinção entre ter conhecimento acerca de alguma coisa e conhecê-la na prática. A distinção é a mesma que há entre ter conhecimento sobre alimentos e comê-los de fato. Um homem pode morrer de fome tendo todo o conhecimento a respeito do pão, e um homem pode permanecer espiritualmente morto, embora conhecendo todos os fatos históricos do cristianismo. O conhecimento pela descrição pode levar-nos ao conhecimento pela familiaridade; pode levar-nos, mas não o faz automaticamente. Por isso não nos atrevemos a concluir que, por termos conhecimento a respeito do Espírito, por essa mesma razão O conhecemos de fato. Tal conhecimento só vem por um encontro pessoal com o próprio Espírito Santo.


É tempo de arrepender-nos, pois as nossas transgressões contra a bendita Pessoa do Espírito Santo têm sido muitas e mui graves. Nós O temos maltratado amargamente na casa dos Seus amigos. Nós O crucificamos em Seu próprio templo (nós mesmos), como crucificaram o Filho eterno no monte Calvário. E os cravos que usamos não são de ferro, mas de substância extremamente nobre e preciosa, da qual é feita a vida humana. Dos nossos corações tomamos os refinados metais da vontade, dos sentimentos e do pensamento, e com eles modelamos os cravos da suspeita, da rebelião e da negligência. Com pensamentos indignos a respeito Dele e com atitudes hostis para com Ele, nós O entristecemos e O apagamos dias sem conta. O arrependimento mais verdadeiro e mais aceitável é inverter os atos e atitudes; mil anos de remorso por um ato errado não agradariam tanto a Deus como uma mudança de conduta e uma vida reformada. “Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo os seus pensamentos; converta-se ao Senhor, que Se compadecerá dele e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar”. A melhor maneira de arrepender-nos é deixar de negligenciá-Lo, abrir todas as portas e convidá-Lo a entrar, submetendo a Ele todas as salas do templo dos nossos corações e insistindo com Ele para que entre e ocupe, como Senhor e Mestre, o nosso interior que é a Sua habitação. E recordemos que Ele é atraído pelo doce Nome de Jesus como as abelhas são atraídas pela fragrância do trevo. Onde Cristo é honrado o Espírito Se sente bem-vindo; onde Cristo é glorificado Ele Se move com liberdade e satisfação.


O Espírito Como Poder


Como opera esse poder? Através do Espírito de Deus, diretamente no espírito do homem. Ele pode usar uma mensagem, um cântico, uma boa ação, um texto ou o mistério e majestade da natureza; mas a obra final sempre será feita pela pressão do Espírito vivificante sobre o coração humano. À luz disso se verá quão vazio e sem sentido é o culto na igreja comum hoje. Todos os meios estão em evidência; a detestável fraqueza é a ausência do poder do Espírito. A música, a poesia, a arte, a oratória, os paramentos (roupas) simbólicos e tons solenes se juntam para encantar a mente do adorador; mas com muita freqüência a inspiração sobrenatural não está ali. O poder do alto não é nem conhecido nem desejado, quer pelo pastor, quer pelo povo. Isso é nada menos que trágico e tanto mais porque recai no campo da religião, onde está envolvido o destino eterno dos homens.


Com vestígios da ausência do Espírito, pode-se verificar aquela vaga sensação da falta de realidade que quase em toda parte reveste a religião da nossa época. No culto da igreja comum a coisa mais real é a triste ausência de realidade em tudo o que se faz. Aquele que presta culto permanece sentado num estado de indiferença suspensa e fantasiosa e uma espécie de entorpecimento sonolento toma conta dele. Ele ouve as palavras, mas não as registra, não consegue relacioná-las com coisa alguma do nível da sua vida. Tem consciência de ter entrado numa espécie de semi-mundo; sua mente se deixa subjugar por uma disposição mais ou menos agradável, mas que se desvanece sem deixar vestígio com a bênção final. Aquilo não afeta em nada a sua vida diária. Ele não experimenta conscientemente nenhum poder, nenhuma Presença, nenhuma realidade espiritual. Não há nada em sua experiência que corresponda às coisas que ele ouviu do púlpito ou que entoou nos hinos.


Um dos sentidos da palavra poder é a capacidade para fazer. Precisamente aí está a maravilha da obra do Espírito na igreja e no coração dos cristãos e da Sua infalível capacidade de tornar as coisas espirituais reais para a alma. A graça, o perdão, a purificação tomam forma com clareza quase física. A oração deixa de ser sem sentido e passa a ser uma suave conversação com Alguém de fato presente. O amor a Deus e aos filhos de Deus toma posse da alma. Sentimo-nos perto do céu e agora é a terra e o mundo que começa a parecer irreal. O mundo vindouro ganha nítido contorno diante das nossas mentes e começa a atrair nosso interesse e a nossa devoção. Então toda a nossa vida se transforma para conformar-se à nova realidade; e a mudança é permanente.


Melhor organização, equipamentos mais refinados, métodos mais avançados – tudo é inútil. É como trazer o melhor pulmão de aço depois que o paciente morreu. Todas estas coisas podem ser boas, mas não podem dar vida nem poder: “o Espírito é Quem vivifica”. Não precisamos de mais unidade de organização; a grande necessidade é o poder. As lápides sobre os túmulos nos cemitérios apresentam uma frente unida, mas permanecem mudas e impotentes em relação aos mortos e aos que passam junto delas.


Imagino que minha sugestão não receberá muita atenção séria, pois o corpo de cristãos que compõem a ala conservadora da igreja é tão carnal, os nossos cultos públicos em alguns lugares são de tal modo irreverentes e os nossos gostos religiosos estão envelhecidos de tal forma, que dificilmente a necessidade de poder seria maior em qualquer outra época da história. Creio que nosso lucro seria muito maior se declarássemos UM PERÍODO DE SILÊNCIO E AUTO-EXAME, para que cada um de nós pudesse sondar o próprio coração e procurasse preencher todas as condições necessárias para um real batismo do poder do alto. Somente o Espírito pode mostrar-nos o que está errado conosco e prescrever a cura a fim de nos livrar da paralisante falta de realidade do cristianismo que O omite. Só Ele pode mostrar-nos o Pai e o Filho e só a Sua operação interior pode nos revelar a solene majestade e o empolgante mistério do Deus Triúno.



[Continua... no próximo post falaremos sobre o Espírito Santo como fogo]




A. W. TOZER


Extraído do livro: A Conquista Divina
Selecionado por: Delcio Meireles (blog seguidores do cordeiro)



GRIFO: DANIEL FREIRE

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